Mostrando postagens com marcador Diabo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Diabo. Mostrar todas as postagens

O ladrão veio para matar roubar e destruir. E o Diabo? (5ª Parte)

Após 4 postagens analisando a figura de Satanás, tenho tentado corrigir muitos pensamentos, talvez errados, que se criou acerca do mesmo, ao longo de séculos de teologia. Confesso não estar sendo fácil, pois tenho um lado extremamente tendencioso a interpretar a bíblia de forma liberal, e como são poucos os que conseguem compreender tanto a fé, quanto as interpretações liberais, tenho feito o possível para que minhas idéias não contaminem a interpretação dos textos, de forma que a mesma venha a se tornar incompreensível ou contraditória.

Na última postagem apresentei o início de uma idéia, na qual Satanás nunca sofreu nenhum tipo de queda. Ao invés disso, o nosso adversário sempre foi quem e como é. Conforme a pergunta que deixei na ultima postagem, foi Deus quem iniciou com Satanás o dialogo sobre Jó, de forma que podemos entender que Satanás estava apenas cumprindo seu papel perante as declarações do Altíssimo.

Partilho com o judaísmo o pensamento de que Satanás é extremamente submisso a Deus, e isso podemos comprovar pela forma que o mesmo aparece nos textos da antiga aliança.

No AT temos então:

Jó 1:6-12 - Satanás pedindo que Deus toque na vida de Jó e o prove.
Jó 2:1-7 - Satanás pedindo que Deus toque “na carne” de Jó e que o fira com chagas malignas.
I Samuel 18:10 - Um espírito maligno “da parte de Deus” se apossou de Saul e o perturbava.
II Samuel 24:1 - Deus “incita” Davi a levantar o censo.
I Crônicas 21:1 - Satanás é quem “incita” David a levantar o mesmo censo de II Samuel 24:1.

I Reis 22:20-22 – Um espírito pede permissão a Deus, para ser um espírito de engano e induzir o rei acabe, o que era justamente o desejo do Senhor.

Talvez, pelo fato de Satanás ocupar um espaço muito maior no NT do que no AT, tenhamos em mente que o mesmo seja um espírito que se encontra em rebeldia contra Deus, porém no novo testamento também encontramos fortes indícios de que Satanás continua sujeito ao Senhor.

Podemos encontrar essa idéia nos seguintes textos do NT:

Mateus 4:1-11 / Lucas 4:2-13 – Jesus é conduzido pelo Espírito Santo, ao deserto, para ser tentado por Satanás. Ou seja, Satanás estava cumprindo seu papel de tentar o filho de Deus, pois o mesmo precisava passar pelas mesmas tentações que todo homem.

Marcos 5:6 – A legião de demônios presente no homem gadareno se prostrou perante Jesus, em sinal de reverência, apelando para o Altíssimo, que não fossem atormentados por Jesus. Somente um espírito submisso a Deus poderia suplicar ajuda pelo nome do mesmo. No texto paralelo em Mateus 8:28, os demônios perguntam por que estão sendo atormentados antes do tempo. O que nos da a idéia de os mesmos sabiam que estavam cumprindo um papel temporário.

II Coríntios 12:7-9 – O “espinho na carne” de Paulo, é um mensageiro de Satanás, mensageiro esse o qual o Senhor não quis retirar, pois como o próprio Paulo declara, foi lhe dado um espírito na carne, para que o mesmo não se exaltasse. Vemos então que Satanás através desse espinho(seja lá o que isso signifique), está cumprindo um desejo do Senhor, de impedir que Paulo se exalte.

Judas 1:9 – Judas faz alusão ao texto judaico do início do século I intitulado “Testamento de Moisés”. Vemos nitidamente no texto como Satanás está sujeito a autoridade de Deus, de forma que o arcanjo Miguel o repreende somente pelo nome do Altíssimo, ainda assim sem proferir qualquer tipo de injúria contra Satanás.


Não deixo de considerar os textos que falam que o inferno está preparado para o diabo, e que o mesmo virá a ser extinto. Mas como compreendo, sendo Satanás uma espécie de personificação do mal, não vejo dificuldade em Deus o extinguindo, quando chegar o tempo determinado para o fim da maldade e do pecado.

Há ainda outros textos que apóiam essa idéia, em contraste com outros que sugerem uma batalha no céu, como é o caso de Apocalipse 12 e Efésios 6:12-18. Não deixarei de lembrar a dificuldade de interpretação do livro de Apocalipse, devido a sua linguagem simbólica e alegórica. Portanto, o máximo que o mesmo dá com certeza é que o poder de Satanás foi enfraquecido, devido ao ministério de Jesus. Dessa forma o mesmo jaó não tem mais a mesma liberdade que teve no passado, de nos acusar perante o Senhor. Afinal, como bem disse Paulo em sua carta aos romanos “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.”

Com relação a Efésios 6:12-18, é notório que quem está guerreando com os tais espíritos, principados e potestades somos nós, de forma que temos, da mesma forma, a idéia de que Satanás está em oposição ao homem, e não a Deus.

Por que Satanás está em oposição ao homem, e sobre subordinação a Deus? Eis uma das questões que eu gostaria de responder, mas Deus não nos revelou a mesma, então não serei eu que desvendarei o que Deus manteve encoberto.

Seja qual for o motivo, o que podemos tirar como lição prática para nossas vidas é existe um ser, que está subordinado a Deus e que se apresenta em nossas vidas como Acusador, Adversário e Inimigo, mas que de forma alguma pode ser o centro de nossas atenções e muito menos pode se tornar nossa “muleta espiritual”, sendo o responsável por tudo que ocorre de adverso em nossas vidas. Sabendo quem Satanás é, e que o mesmo está subordinado a Deus, devemos procurar ainda mais uma vida de retidão, de forma que quando estivermos sendo confrontados pelo diabo, possamos saber que Deus está no controle e que há algum propósito para tal situação.

Anderson L. Santos Costa

O ladrão veio para matar roubar e destruir. E o Diabo?(4ª parte)

Nas últimas postagens eu executei a parte mais fácil desse estudo. Duvidei e contrariei a idéia que se tem hoje, na teologia cristã, com relação a Satanás. Mas confesso, duvidar do que já está pré - estabelecido é muito fácil, me admira muito que seja irrisório o número de pessoas que o fazem. Em contra – partida tem sido grande a dificuldade, que tenho enfrentado nos últimos dias, na tentativa de apresentar uma nova interpretação acerca de Satanás, não apenas sistematizando uma gama de versículos bíblicos. Tenho analisado diversos textos que falam de Satanás explicitamente, ou que falam simplesmente de “espíritos maus”, o que é o caso de textos da antiga aliança, e tentado extrair, dos mesmos, o que eles realmente estão falando, da forma que fiz na postagem anterior, analisando o contexto dos escritos.

Ainda não será esse o final dessas postagens, pois confesso que quanto mais estudo sobre o tema, mais distante me parece a conclusão do mesmo. Por esse motivo postarei conforme concluir pequenas perguntas. Vamos então ao que interessa!

A primeira pergunta que, com certeza, todos gostaríamos de saber a resposta é sobre a origem de Satanás. Já que na última postagem apresentei uma interpretação segundo a qual Satanás não tem uma origem angelical, tendo se tornado um rebelde opositor a Deus, seria bom explicar qual sua origem. Mas esse é um tema o qual os escritores bíblicos não se importaram em relatar, ou, assim como nós, eles também não sabiam a resposta, exata, para tal dúvida. É por isso que temos a demonologia de Lúcifer. Foi no afam de responder a uma pergunta que provavelmente nem os escritores bíblicos conheciam as respostas, com clareza, que se formou tal teologia, creditando a textos que não falam de Satanás o que seria a “dramatização” de sua origem e queda.

O que podemos saber sobre Satanás é que desde o princípio ele é homicida como relata João, acerca das palavras do Senhor Jesus:

“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio(archês), e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” Jo 8:44

Temos, no texto citado acima, a ocorrência da palavra “archês” que é traduzida como “princípio”. A palavra archês, é a mesma que João utiliza no primeiro verso de sua versão do evangelho no famoso discurso sobre a origem do logos de Deus:

“No princípio(archê) era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” Jo 1:1

Podemos verificar também o uso da palavra archês em outros textos, nos quais a mesma é utilizada se referindo à criação do mundo, ao início das dores e ao início do ministério de Jesus. Vide Mt 19:4; 24:8; Jo 15:27.

Dessa forma, podemos interpretar que desde o início de suas ações, Satanás é homicida. Quando se iniciariam essas ações? Provavelmente no Édem, quando Satanás cometeu um “homicídio” por inferência, ao mentir para Eva, fazendo com que Eva e posteriormente Adão comecem do fruto proibido, o que causou a morte(seja espiritual ou física, não vêm ao caso) do casal.

Outro ponto importante do texto em questão é que o diabo “não se firmou na verdade porque não há verdade nele”.

A palavra traduzida por ‘firmou’ é “estêken” que como pude notar em suas outras aparições no novo testamento traz a idéia de permanecer em um local, ou em uma forma, pode se referir também a uma atitude de ser fiel, firme e constante(Rm 4:14). Em João 1:26, João o Batista a utiliza para declarar que Cristo, estava entre aquelas pessoas. Já em Apocalipse 12:4, a mesma palavra é utilizada quando se diz que “o dragão parou diante da mulher”. Essa idéia ainda tem algo importante a ser considerado, pois a terminação ‘en’ indica um verbo em tempo passado. Dessa forma, o que entendo com relação ao estado do diabo, quanto a não se firmar na verdade é de que ele não estava firmado na verdade justamente por que não há verdade nele. Ou seja, ele é homicida e não se firmou na verdade desde o princípio porque foi justamente dessa forma que Deus o criou. Por mais ‘diferente’ de tudo que conhecemos a cerca das idéias sobre Satanás, o que posso extrair dessa declaração de Jesus, é que ele está falando a seus opositores que assim como o diabo não estava firmado na verdade, mas antes era homicida e mentiroso, sendo o pai da mentira, tendo a mentira como algo próprio de si mesmo, também os que se opunham a ele eram originalmente filhos do Diabo.

Essa é uma declaração que faz muito sentido quando pensamos que cada ser humano já nasce imperfeito, e dessa forma, o pecado e a imperfeição são inerentes ao homem. Não é algo que o homem se torna com o tempo, mas antes algo que o mesmo é desde o nascimento. Fica então claramente compreensível a comparação aos que não crêem em Jesus, com o diabo, alegando que os mesmo são seus filhos. Tanto os homens já nascem pecadores como também o diabo já ‘nasceu’ homicida e mentiroso. Afinal, sabemos que nos tornamos filhos de Deus, a partir do momento que reconhecemos seu filho Jesus, e entregamos nossas vidas a ele.

Se é assim, como pode Deus, sendo bom e justo, ter criado um ser homicida e mentiroso? Essa é mais uma das grandes questões que nos tiram o sono, mas que seja como for, devemos ter em mente que Deus é soberano em suas criações, e tem seus propósitos aos quais não nos cabe contestar:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” Isaias 45:7

É claro que no texto de Isaias, o que Deus estava fazendo é um discurso sobre sua soberania e não, discorrendo sobre a criação de Satanás, porém por inferência, sendo Deus o criador do mal, não seria exagero que “pensássemos” em Satanás, como o agente ao qual Deus criou para segundo os propósitos de Deus, executar esse mal. Isso não torna Satanás um servo de Deus? Sim torna. Afinal, sejam bons ou maus, justos ou injustos, todos servem aos propósitos de Deus para o mundo, como podemos ter os exemplos Faraó, Nabucodonosor, Ciro e tantos outros como os povos inimigos de Israel, os quais o Senhor muitas vezes utilizou segundo sua permissão, para executarem juízos sobre os Israelitas.

Podemos ter mais apoio a esta idéia analisando a atuação de Satanás no sofrimento do justo Jó. Sem dúvida o papel que Satanás executa é o de acusador, ou caluniador, pois o mesmo direciona seu raciocínio para mostrar a Deus que Jó não é este servo bom que o Senhor imagina. Inclusive, a própria palavra grega ‘diabolos’ que se tornou um nome pessoal em sua tradução para o português, significa ‘caluniador’.

Esse não é um encerramento da discussão, pois há ainda muitos outros textos os quais estudei que dão apoio a está idéia, porém deixarei os mesmo para a próxima parte. Sabendo que Satanás não é um anjo de Luz que se rebelou contra Deus, e que há a possibilidade de que o mesmo tenha sido criado com o propósito de ser quem é, e sempre foi, veremos na próxima parte se essa idéia é encontrada em outros textos que falam de Satanás. Por hora fica algo a ser refletido: Partiu de Satanás ou de Deus a conversa sobre a integridade de Jó?

Anderson L Santos Costa

O ladrão veio para matar roubar e destruir. E o Diabo? (3ª Parte)

Vimos na última postagem, como pensa o Dr. Severino Celestino, com relação a figura de satanás, crendo ele que o mesmo não é um personagem original dos relatos bíblicos, mas sim um ser inserido na teologia judaica após o contato com o zoroastrismo persa.
Biblicamente, penso que essa é uma interpretação inconsistente, pois a bíblia seguramente aponta satanás como um ser pessoal. Mas de certa forma, concordo com o Dr Severino com relação a influência do Zoroastrismo na figura de Satanás. A teologia cristã, como temos hoje, sem dúvida alguma assimilou muito da idéia do Ahura-Mazda’ sofrendo a oposição do ‘Angra Mainyu, ou Ahriman’, ‘o espírito mau. A crença cristã entende Satanás como um anjo rebelde, o ex-ministro de louvor do céu (risos), chamado Lúcifer, extremamente poderoso, que se rebelou contra Deus, por querer ser maior que o Altíssimo, e até hoje vive como opositor das “coisas celestiais”. Esse é um assunto praticamente, indiscutível no meio cristão, tendo um número quase irrisório de pessoas que contestam essa idéia. Então, já que é assim, que tal fazermos parte desse número irrisório?
Vamos então analisar os textos dos quais é extraída essa teologia.

Is 14:12-15
“Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo.”

A primeira coisa importante sobre esse texto é que é dele que o nome Lúcifer é extraído. A palavra Hebraica é ‘helel’ que significa apenas “estrela da manhã”, não tendo qualquer ligação com Satanás. Lúcifer provém do latim, significando “aquele que leva a luz”, ou “portador da luz”.
O segundo ponto de destaque é que essa expressão foi traduzida como um nome pessoal, o famoso Lúcifer, pela primeira vez por Jerônimo, em sua tradução da bíblia para o latim, a chamada Vulgata Latina. É interessante saber que São Lúcifer era o nome de uma personalidade católica com quem Jerônimo se desentendeu, o que obviamente não interfere em nada, pois Jerônimo não teria uma atitude de má fé como essa não é? rsrsrs

Agora independente dos fatos citados acima o importante, a saber, é, em que lugar desse texto está satanás? Duas perguntas cruciais são:

O contexto precedente está falando sobre quem, ou o que?
O contexto procedente está falando sobre quem, ou o que?


Respondendo a essas duas perguntas podemos então responder em que lugar do texto está Satanás. Em nenhum! Como vemos no contexto precedente, no verso 4, o texto é destinado ao rei da babilônia:

“Então proferirás este provérbio contra o rei de Babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor, como já cessou a cidade dourada!”

E nos versos de 16-17 vemos como a seqüência lógica se mantém sobre o rei da Babilônia:

"É este o homem que fazia a terra tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para casa?"

É simplesmente uma agressão ao sentido comum do texto, inserir a figura de Satanás no mesmo, como se Isaias estivesse abruptamente interrompendo a profecia contra o rei da babilônia, para fazer uma descrição da queda de Satanás. O texto trata simplesmente da queda do rei da Babilônia, e nada, além disso. Como podemos ver, esse é mais um texto em que Satanás foi ‘inserido’ de forma incorreta, por interpretações errôneas, e, portanto mais um dos quais precisamos tirá-lo para podermos realmente compreender quem é Satanás.

Vejamos o próximo texto.

Ez. 28: 12-19
“Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.”

Eis, outro texto com destinatário declarado, o rei de Tiro, porém com linguagem alegórica que traz palavras como “Édem”, “querubim” e “lugares altos”, o que levou os teólogos a desenvolverem a interpretação na qual, essa é a referência ao regente de louvor do céu, que se rebelou contra Deus. Porém, esquecem de uma dificuldade clara os que assim interpretam. A referência ao Édem, entendida de forma literal pelos que vem Satanás nesse texto é contraditória com tal pensamento, pois como se esquecem, no Édem a serpente já era adversária do homem, o que não condiz com esse texto, que liga a figura do querubim, ainda perfeito, ao Édem.

Analisando o contexto, nos versos de 1 a 10 temos o príncipe de Tiro sendo apresentado como “homem, e não Deus”, sendo mais sábio que Daniel, e com isso desejando ser igual a Deus. Tendo tamanha sabedoria, proveniente de Deus, o rei de Tiro é descrito como um querubim ungido, estabelecido por Deus em seu monte santo, mas que devido a esse desejo de usurpação de Deus, que cresceu em seu coração, receberá julgamento severo da parte de Deus.

Mais uma vez, em meio a uma linguagem alegórica, e com certo tom de sarcasmo, demonstrando a loucura de homens que se imaginavam iguais a Deus, vemos que Satanás passa longe do texto, sendo que somente os que já têm uma teologia pré-determinada em suas mentes conseguem visualizar um anjo se rebelando contra o Altíssimo.

Ap. 12:7-9
“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.”

Esse é outro texto que será utilizado no afam de tentar “provar” que houve uma queda de Satanás do céu, porém sem mesmo lembrar a dificuldade de se interpretar o livro de Apocalipse devido as suas várias formas literárias presentes, uma simples lembrança de que cronologicamente a “batalha” de Apocalipse 12: 7-9 ocorre após o nascimento de Jesus, já torna o texto incongruente com a teologia da tal queda de Satanás no início dos tempos.

Lucas 10:18
“E disse-lhes [Jesus]: Eu via Satanás, como raio, cair do céu”

O contexto anterior a essa passagem nos mostram que a declaração de Jesus indica o enfraquecimento do poder de Satanás, que está sendo executado com a expansão do reino de Deus. No verso 17, parte B, vemos os discípulos voltando de sua missão, dizendo:

“... Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam”

E em resposta a tal afirmação, o Senhor Jesus, afirma que “via Satanás, como raio, cair do céu”. A idéia de queda denota a perda de poder, e é justamente a isso que Jesus está se referindo. Como prova disso, ele explica aos discípulos no versículo seguinte o porquê dos demônios se sujeitarem pelo nome do Senhor:

“Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano"

Podemos ver, então, que mantendo a expressão em seu contexto, não há qualquer sentido em transferi-la para um tempo passado, ligando aos outros textos já citados, de forma a desenhar uma teologia da “queda de Lúcifer”.

Estes são os textos base, para a idéia de um anjo rebelde, que fora querubim de Deus, regente de seu coral celestial, mas que desde que desejou ser igual a Deus, e se assentar em seu trono, está em oposição ao reino celeste.
Mas, se Satanás não é um anjo que se rebelou contra Deus, quem ele é afinal?

Essa é uma pergunta que tentaremos responder na próxima postagem. O objetivo inicial dessa série de postagens era que durassem por, apenas, 3 postagens, porém senti a necessidade de apresentar certos pontos sobre o que se pensa sobre os demônios hoje, retirando Satanás de onde ele não foi pensado, a fim de que fosse mais compreensível quem o Diabo realmente é!

Na próxima postagem então concluiremos apresentando uma nova forma de pensar em quem é Satanás, e qual seu papel no plano de Deus, e em nossas vidas.

Anderson L Santos Costa

O ladrão veio para matar roubar e destruir! E o Diabo? (2ª Parte)

Na primeira parte dessa série de postagens, demonstramos como satanás é inserido em um texto do qual não faz parte, porém há ainda muitos outros textos dos quais devemos tirá-lo, para que possamos ter uma real compreensão sobre quem é satanás. Mas deixaremos isso para quando estivermos analisando qual a “função” de satanás.

Na postagem de hoje, veremos algumas idéias sobre quem é satanás.

Ao pensar na figura de Satanás, algumas perguntas nos vêm à mente:

Ele existe literalmente como um ser?
É apenas uma força maligna atuante no mundo?
É apenas a maldade contida no ser humano?


Pois bem, para começar, pensemos que Satanás é uma figura muito controvertida na Bíblia. A palavra ‘Satã’ significa acusador. Ele aparece, pela primeira vez no livro de Jó, sendo como um promotor celestial. A sua intimidade com Deus e o direito de entrar no ‘Céu’, de ir e vir livremente e dialogar com Ele, torna-o uma figura de muito destaque. Veja o livro de Jó 1:6, um dia em que os filhos de Deus se apresentaram diante do Senhor, veio também Satanás entre eles.

Até ai tudo bem, porém lembremos que a data de quando foi escrito o livro de Jô, permanece uma incógnita, porém sendo muito aceito entre grandes estudiosos com escrito depois do Exílio Babilônico. Sabemos que o povo judeu, tendo retornado a Israel com a permissão de Ciro, rei persa, no ano de 538 a.C., assimilou muitos costumes dos persas. Isso ocorreu devido à simpatia e apoio que receberam do rei, que inclusive permitiu a construção do Segundo Templo judaico e ainda devolveu muitos de seus tesouros, que haviam sido roubados.

Após anos de contato com os persas, é impossível não perceber como a religião dos persas, o Zoroastrismo, influenciou o judaísmo.No Zoroastrismo, existe o Deus supremo ‘Ahura-Mazda’ que sofre a oposição de outra força poderosa, conhecida como ‘Angra Mainyu, ou Ahriman’, ‘o espírito mau’. Desde o começo da existência, esses dois espíritos antagônicos têm-se combatido mutuamente. O Zoroastrismo foi uma das mais antigas religiões a ensinar o triunfo final do bem sobre o mal. No fim, haverá punição para os maus, e recompensa para os bons.

Partindo desse princípio encontramos a idéia, a qual muitos teólogos modernos têm, de que foi do Zoroastrismo que os judeus aprenderam a crença em um ‘Ahriman’, um diabo pessoal, que, em hebraico, eles chamaram de ‘Satanás’. Por isso, o seu aparecimento na Bíblia só ocorre no livro de Jó e nos outros livros escritos após o exílio Babilônico, do ano de 538 a.C. para cá. Nestes livros, já aparece a influência do Zoroastrismo persa. Vejamos ainda que a tentação de Adão e Eva é feita pela serpente e não por Satanás, demonstrando assim, que o escritor de Gênesis não conhecia Satanás.
Os sábios judaicos interpretando Eclesiastes 10:11, afirmam (Pirkei de Rabi Eliezer 13), que na verdade, a cobra que seduziu Adão e Eva era o Anjo Samael que apareceu na terra sob forma de serpente. E que Ele é conhecido como o ‘dono da língua’. O Anjo Samael, que apareceu sob a forma de serpente, usou sua língua, e este poder pode ser usado somente para dominar o sábio, ele não pode prevalecer sobre um ignorante!
Outra observação interessante é que o livro de Samuel foi escrito antes da influência persa no ano de 622 a.C e, no II livro de Samuel em seu capítulo 24:1, você lê com relação ao recenseamento de Israel o seguinte:

“A cólera do Senhor se inflamou novamente contra Israel e excitou David contra eles, dizendo-lhe; Vai recensear Israel e Judá..”
Agora vejamos esta mesma passagem no I livro das Crônicas, que foi escrito no começo do ano 300 a.C, portanto, já sob a influência do Zoroastrismo persa, com o já conhecimento de ‘Ahriman’ – ‘Satanás’. No capítulo 21:1 desse livro, está escrito:

“Recenseamento: ‘e levantou-se Satã contra Israel, e excitou David a fazer o recenseamento de Israel.”

Portanto, o que era o Senhor no livro de Samuel aparece agora no livro das Crônicas como Satanás. Dessa forma, muitos pensam que, Satanás não é um conceito original da Bíblia, e sim, introduzido nela, a partir do Zoroastrismo Persa. Como dizem, passam a existir a partir daí, ‘lendas’ entre alguns judeus de que Satanás é considerado como o rei dos demônios, que se rebelara contra Deus sendo expulso do céu. Ao exilar-se do céu, levou consigo uma hoste de anjos caídos, e tornou-se seu líder. Lendas como essa podem ser encontradas no pseudo-epígrafe de Enoque, por exemplo, sendo que tanto Pedro quanto Judas, se apropriaram de idéias desses livros ao discorrer sobre a idéia dos anjos que pecaram.

Essa é a forma como pensa o, espírita, professor universitário Dr. Severino Celestino, historiador e pesquisador de textos bíblicos. Porém não apenas ele, mas muitos teólogos cristãos, em especial os liberais, pensam da mesma forma, e se fizermos uma análise sociológica como a que o Dr. Severino faz, realmente é uma hipótese que deve ser levada em conta.

Partindo de interpretações como essa, há os que sugerem a idéia de Satanás como o mal contido em cada ser humano. Admitindo o reconhecimento de Jesus a Satanás, os que assim pensam, defendem a idéia de que o diabo é apenas nosso lado mal. Eles vêm, por exemplo, em Mc 9,17-27, um homem sofredor de epilepsia e não possesso por um demônio.

Porém, apesar da base intelectual que tais afirmações possam trazer as mesmas não resistem a uma analise bíblica, que demonstra Satanás como um ser pessoal, sendo ele:

Líder dos demônios: Mc 3,22
Acusador = Zc 3,1
Pecador desde o princípio = I Jo 3,8
Pai da mentira, homicida desde o princípio = Jo 8,44
Príncipe deste mundo = Jo 12,31; 14,30; 16,11
Paulo o chama de deus deste mundo = II Cor 4,4

Dessa forma, é impossível pensarmos que um ser com tais características possa ser mera assimilação do zoroastrismo, ou uma espécie de maldade interior humana. Penso dessa forma, com base bíblica, que Satanás é sim um ser pessoal, criado por Deus o qual está delimitado por Ele, como podemos ver em Jó 1:12.

Veremos na parte 3 dessas postagens, através da bíblia, quais as funções de Satanás e para que ele veio Tentaremos concluir esclarecendo algumas interpretações no mínimo exageradas, com relação ao estado inicial de Satanás e sua suposta queda.

Mas há ainda declarações do Dr. Severino Celestino as quais eu gostaria de dar ênfase:

"Muitas pessoas acreditam no poder de Satanás e até o enaltecem em suas igrejas, razão pela qual, achamos que seriam fechadas muitas igrejas se os seus dirigentes deixassem de acreditar em Satanás".

“Mas o homem ainda não compreendendo a grandeza de Deus vem, infelizmente, perpetuando esse dualismo entre o bem e o mal, principalmente no meio das religiões cristãs tradicionais. Erro teológico, que a nosso ver é grave, pois é com esse pensamento que sustentam uma pedagogia negativa, querendo que seus fiéis façam o bem somente por medo do "tridente de satanás", ao invés, do que seria obvio e lógico, fazer o bem por amor a Deus.”

Independente das minhas diferenças, de pensamento teológico, com relação ao Dr. Severino, reconheço que estas são declarações que tem grande percentual de verdade!
Anderson L. Santos Costa

O ladrão veio para matar roubar e destruir! E o Diabo? (1ª Parte)

Não poucas vezes, ouvi a clássica frase “o diabo veio para matar roubar e destruir”, e por muito tempo nem se quer contestei se isso estava correto ou não. Afinal, um ser que quis ser maior que Deus e se rebelou contra o exército dos céus, sem dúvida não veio para outra coisa senão matar, roubar e destruir. Pensava assim...
Começaremos então, uma série de postagens, que tem previsão de se estender por 3 postagens, podendo aumentar ou diminuir, dependendo da inspiração que eu tiver, nos próximos dias. O objetivo dessas postagens é tirar Satanás de onde ele não está, e esclarecer e corrigir muitos erros de pensamento e interpretação que temos cometido ao longo dos anos.

Comecemos então a primeira pergunta: quem é o ladrão?

O texto em que encontramos a declaração em questão é o texto de João 10. Como bem sabemos, esse é o discurso do sumo - pastor, o discurso no qual Jesus afirma ser “o bom pastor”, o qual as ovelhas ouvem e ele as conhece. Ele também discursa sobre a garantia da permanência dessas ovelhas sobre os cuidados de seu pastor. Permanência essa assegurada não apenas pelo bom pastor Jesus, mas também por seu Pai, o nosso Deus. Temos então Jesus discursando sobre os que vieram antes dele:

“Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram” Jo 10:8

E após essa declaração ele deixa bem claro o que é que o ladrão faz:

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir” Jo 10:10a

De pronto, nossas mentes nos apontam quem é esse ladrão. O diabo, o coisa ruim, o tinhoso, o inimigo, o capeta ou qualquer outro nome que possamos dar a Satanás. Mas essa é uma grande inverdade. Nem de longe é a ele que Jesus está se referindo! O que Jesus está fazendo é um contraste entre o bom pastor, e os que vieram antes dele. E isso é notório quando Jesus completa a frase, mostrando a que veio:

“eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” Jo 10:10b

Dessa forma vemos que os ladrões são os falsos lideres, mestres e profetas que vieram antes de Jesus. Não todos, mas os falsos. Aqueles que tinham o povo por suas presas e não ovelhas. Esses eram os ladrões aos quais Jesus se referia. Ainda assim, é preciso compreender o sentido metafórico aos quais as palavras matar, roubar e destruir significam. Sabemos que os que vieram antes de Jesus, não roubavam, não matavam nem muito menos destruíam nada nem ninguém, no sentido literal das palavras. Tais homens roubavam, matavam e destruíam a vida das pessoas, se colocando como lideres das mesmas, vindo da parte de Deus, lhes impondo uma liderança autoritária, incoerente e baseada em tradições humanas, e muitas vezes fictícias, em se tratando dos falsos profetas, que proclamavam ser o messias, tão aguardado pelo povo. Eles simplesmente impediam que as pessoas tivessem um verdadeiro contato com Deus, como tiveram os patriarcas. Por isso Jesus é o bom pastor. Aquele ao qual as ovelhas conhecem, e o ouvem. Ele é aquele que nos dá a liberdade de chegarmos ao Pai. Ele é o caminho verdadeiro!

Dessa forma, entendemos que nem de longe Satanás tem qualquer participação nesse texto, que está falando restritamente sobre Jesus e aqueles que vieram antes dele, para liderar e pastorear as ovelhas perdidas da casa de Israel.

Se é assim tão claro o texto, como é possível que vejam satanás nele? Simples. Pelo mesmo motivo pelo qual Satanás é visto em muitos outros textos bíblicos, os quais ele nem se quer é mencionado. Trataremos sobre esses textos mais adiante, provavelmente na terceira postagem.

Na próxima postagem, começaremos a discutir sobre o ser Satanás. Ele existe literalmente como um ser? É apenas uma força maligna atuante no mundo? É apenas a maldade contida no ser humano?

Por hora, ficamos com a advertência de repensar nossas interpretações que tem feito de Satanás um tipo de peteca, o qual é jogado de um lado a outro, em qualquer texto bíblico que possua adjetivos de conotação maléfica!

Anderson L Santos Costa