Você tem fé? Pois eu tenho dúvidas!

Postado por Anderson L. On 19:53

Outro dia estava lendo um texto do Prof. Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro intitulado “Eu creio na dúvida” e diria que eu concordei com ele em numero e grau. O Dr. Osvaldo faz um exercício que nos leva a repensar por que o princípio da teologia é a fé, sendo que se a teologia se trata de uma reflexão humana sobre Deus ela deveria começar pela dúvida tendo a fé como o fim da mesma. Cito um trecho do texto do Prof. para que sua idéia seja mais clara:

“Ora, se Teologia é mesmo reflexão humana – e o é, toda ela – por que devem os seus amantes começarem pelo fim? Não seria mais aconselhável começarmos pelo começo? E o começo não seria, então, justamente pressupor, sim, que o final pode estar equivocado? Então lá vai o teólogo às línguas originais, para ver se as traduções se salvam, se os comentários têm jeito, essas coisas; depois, à História da Teologia, para ver as mãos e os pés que por ali estiveram, os compromissos que assumiram, os pressupostos que esconderam, o que viram, o que não viram, não quiseram ver. Lá vai ainda o teólogo às ferramentas de leitura e de pesquisa, de reflexão e de juízo, um mundo de competências, difíceis todas, impossíveis, agora, para uma vida, mesmo com Internet, e por isso mesmo...”

Lendo esse texto eu me lembrei da “fase” que tenho passado no último ano, e de como tudo que ele escreveu é uma verdade para mim. Lembro-me que, há muito, tenho tentado compreender as palavras de João:

“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”

Mas que verdade? O evangelista João dizia que Jesus era a verdade. Inclusive, ele se utilizou do termo grego "logos", muito utilizado por Heráclito e outros filósofos do século IV a.c como a expressão do conhecimento superior e determinante do mundo, para se referir a Jesus, o logos de Deus. Mas quem conhece realmente o tal Jesus? É feito tanta teologia sobre o simples homem de Nazaré, que é cada vez mais difícil ter certeza de quem ele realmente foi, e de quais eram suas intenções para seus seguidores e a comunidade que desejou iniciar. Este tem sido o meu princípio de dores...na verdade, o princípio das dúvidas...

Quem foi Jesus? O que ele realmente ensinou? O que ele realmente sonhou para o mundo?

Estas foram às questões que me levaram ao “estado” em que estou hoje. Eu tinha as respostas para essas perguntas na ponta da língua, mas nenhuma delas me satisfazia. Nunca fui de aceitar com facilidade as ideias que já vinham prontas e empacotadas, apenas a espera de que eu as "engolisse".Talvez essa seja uma característica que herdei de minha infância, já que sendo criado sem a companhia de um irmão, e por pais sem muita instrução com relação aos estudos, sempre tive recursos limitados para fazer o dever de casa, aprendendo desde cedo, a ser 'autodidata'. A conseqüência disso foi que quando decidi fazer parte de uma denominação cristã, não me senti a vontade para apenas ouvir o que me diziam, mas eu desejei também beber da mesma fonte que os lideres bebiam. Assim, passei a ler muita coisa, de comentários bíblicos a livros de mitologia grega. Não sei até que ponto isso foi proveitoso para mim, mas o que tenho certeza é que a fé, ou as duvidas que tenho hoje devem-se a isso.

Desde então, quanto mais leio e estudo maiores as respostas prontas e maiores ainda as dúvidas por eu não aceitar tais respostas. Tal como Ricardo Gondim, também acho uma grande insinceridade da parte de muitos cristãos afirmarem que não possuem dúvidas sobre Deus, ou sobre o próprio cristianismo, mas que antes crêem em tudo sem titubear. A dúvida é motivo de grande temor entre os defensores da teologia reformada que proclamam a salvação através da fé. Afinal, pensam eles, segundo a teologia paulina, como podem ser salvos aqueles que têm dúvidas sobre sua fé?

Mas me pergunto como é possível que tais pessoas sejam tão crédulas quando temos o relato de que até mesmo João Batista, aquele que vendo Jesus anunciou sem medo que aquele era “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, um tempo depois, na prisão, teve dúvidas e enviou seus seguidores para perguntarem ao mestre:

“És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” Lucas 7:20b

Penso que minhas dúvidas não são motivo de temor. O fato de não ter todas as respostas sobre Deus, ou melhor, de não ter praticamente nenhuma resposta, não significa que eu esteja me afastando dEle. Antes, as dúvidas apenas aumentam meu desejo de conhecer o Altíssimo, e demonstram como sou limitado perante tamanho mistério que é o conhecimento do divino. Contestar as doutrinas da trindade, da inspiração bíblica, da salvação pela fé, dos sacramentos e muitas outras, pode ser considerado como o princípio de pensamentos hereges, mas quem garante que a teologia que já temos não é fruto de heresias primitivas? Afinal, não consigo deixar de fazer um paralelo paradoxal. Como pode o mundo estar caminhando de mal a pior ao mesmo tempo em que supostamente o “conhecimento de Deus” tem aumentado, já que tem aumentado o número de cristãos? Será mesmo que o cristianismo detém restritamente a conhecimento de Deus? Será que o cristianismo tem vivido de acordo com o que prega?

É essa a forma que tenho pensado ultimamente, e são esses os pensamentos que estão me levando pela estrada da revisão teológica do cristianismo. Arrisco-me a ser mais um dos chamados “hereges”, por contestar a “sã doutrina da graça”, mas isso não me importa, pois sei que muitos compartilham desses pensamentos comigo, apenas não estão prontos para encarar as conseqüências que os mesmo possam trazer.

Quem lê o que escrevo já percebeu que desde o primeiro texto desse blog, tenho tentado rever doutrinas aceitas dogmaticamente á séculos, de forma que a maior parte dos cristãos não conheciam outra visão sobre os assuntos tratados, a não ser a forma que já fora ensinada antes. De agora em diante as questões se aprofundaram, pois navegarei por águas que poucos tem se arriscado a navegar abertamente, pelo temor das represálias cristãs. Como deixei claro desde o começo, a intenção de fazer theóslogia não é a de atacar ninguém, e sim de rever pensamentos que talvez estejam errados, de forma que nosso objetivo seja sempre uma aproximação de Deus, procurando saber quem Ele é, e como tem se revelado ao homem. Creio que para isso a dúvida se faz imprescindível, pois uma fé cega e temerosa de se desviar de um caminho que nem conhece, não pode ser tão sincera quanto proclama a dogmática!

Reconhecendo a grande dificuldade do caminho que trilharei faço uma paráfrase de Shakespeare:

“há mais mistérios entre Deus e os homens, do que sonha nossa vã teologia”.

Anderson L. Santos Costa

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