Criação humana ou criação divina?

Postado por Anderson L. On 19:56

Seriam os homens uma criação divina, ou seriam os deuses uma criação humana?

Em todas as religiões notamos que independente de suas variações os deuses possuem um desejo frenético de receber adoração de suas criações. O deus cristão é tão fissurado pelo sentimento de ser adorado, que em seu céu todos os seus escolhidos viverão somente para adorá-lo.

Vemos no deus hebreu, uma figura inclemente que não suporta ter "sua glória" dividida com ninguém. Ao ver pessoas adorando o nada(já que o mesmo afirma que somente ele é deus e os outros são obras de mãos humanas), ele não se contém e utiliza de todas as formas possíveis para matar os povos que adoram outros deuses, fazendo com que seu "povo escolhido" cometa todo tipo de chacina e execução, de bebês a anciãos das nações pagãs, que adoram outros deuses.

O deus islâmico declarou “guerra santa” a todas as nações que não o servem. Talvez esse seja o deus que comumente mais se crítica devido a sua forma autoritária de exigir adoração a si, e de querer o fim de seus inimigos. Porém, esquece-se que grande parte da culpa de tal guerra é dos “cristãos” que durante as cruzadas desejaram “converter” os muçulmanos ao cristianismo através de força e autoritarismo. Digamos que a diferença é que os seguidores de Alá praticam hoje o que os seguidores de Jesus e de Javé praticaram no passado.

Os deuses determinam que a justiça está ligada aos que os adoram. Quem não adora a seu criador é injusto, independente do que faça. Se você não adora o deus criador, suas obras, para ele, tornam-se trapos.

Estive então refletindo nos últimos dias. O desejo de ser adorado é uma característica humana ou divina?

Sabemos que não importa como, gostamos de ser elogiados, cortejados e termos nossos egos massageados. Nada é melhor do que notar que alguém nos admira, ainda que isso seja comparado ao que entendemos por adoração. Podemos ver isso no famoso personagem bíblico Daniel. Futuramente Daniel se negaria a deixar de se prostrar a Javé, reconhecendo o mesmo como seu Deus, porém quando o rei Nabucodonosor prostrou-se para adorá-lo, o mesmo não fez qualquer ressalva, recebendo assim a adoração do rei de bom agrado:

“Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves.” Daniel 2:46

Não vejo esse fato como motivo para considerar Daniel como injusto, ou como adorador de deuses estranhos. Antes percebo como o desejo de ser adorado, ainda que errado, é uma característica humana.

Os grandes lideres, sejam militares, religiosos ou políticos possuem tremenda sede pelo poder justamente pelo desejo de se sentirem como deuses, que são aclamados e adorados por todos os que os admiram. Vemos o profeta Ezequiel reprimindo esse desejo no príncipe de Tiro:

“Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor DEUS: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus;” Ezequiel 28:2

Portanto duas possibilidades habitam meus pensamentos:

Se o desejo de ser adorado é uma herança que o homem recebeu de seu criador, então o homem que deseja ser tratado como deus, sendo adorado e servido, não está pecando, mas sim sendo igual a seu criador.

Ou então,

Se o desejo de ser adorado é uma característica do egoísmo humano, os deuses, incluindo o cristão, possuem centralizados em seu ser uma característica humana, e isso é um enorme indício de que John Shelby Spong está correto ao afirmar que “a definição teística de Deus é criação humana”.

Portanto, seriam os homens uma criação divina ou seriam os deuses uma criação humana?

Essa é uma pergunta que assombra a muitos, mas que desejo começar a tratar. Afinal, não se pode fazer theóslogia sem tratar das questões que envolvem o caráter do Deus que conhecemos.

Anderson L. Santos Costa

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