Estou lendo um livro que fala sobre a disputa histórica sobre a divindade/humanidade de Jesus, entre arianos e atanásianos, e resolvi fazer uma reflexão sobre duas ideias que li nesse livro:

“Se a vida de Jesus e seu caráter supostamente serviriam como modelo de comportamento para os cristãos comuns, a principal missão do clero deveria ser a de ajudar as pessoas a se transformarem, e não a de manter a unidade teológica e política do império”

“Seria a tarefa primordial do clérigo ajudar seus membros a se aperfeiçoarem, ou apenas administrar os ritos sagrados e manter a ordem, como fazia o sacerdócio pagão?”

Estas são frases proferidas pelo partido Ariano, que acreditava que Jesus era o filho de Deus, criado do nada, tendo sido a primeira criação de Deus, mas não sendo o próprio Deus. Não entrarei no mérito desta questão, pois a proposta no momento não é a de estudar a humanidade/divindade de Jesus, e sim a de repensar quais as implicações dos ensinos e da vida de Jesus para nós.

Dei um boa filosofada sobre essas frases, e comecei a me perguntar, até que ponto esse pensamento é relevante na minha vida, tendo em vista a minha forma de viver que é norteada pelo que tenho como verdade, ou seja, a minha fé.

Eu costumo torcer o nariz para o entendimento espiritualizado que o cristianismo dá para tudo. Muitos não consideram o caráter, a ética e a moral como atitudes prescindíveis e que devem fazer parte da vida de todo ser humano, e não somente dos que se dizem religiosos. Concordo com o que diz Paulo de Tarso nos versos 14 e 15 do segundo capítulo de sua carta aos Romanos. Penso que independente de Cristo, Buda Ghandi, Moisés, Confúcio ou qualquer outro líder espiritual de sua respectiva religião, e das leis a padrões que são dados por tais religiões, cada ser humano possui em seu coração (entendido nesse caso como sua mente), uma lei de padrões e princípios morais comuns, que regem sua vida, lhe defendendo ou lhe condenando, perante o que é tido como certo e como errado.

O Cristianismo, de uma forma um tanto quanto subjetiva, crê que a “santificação” é operada pelo Espírito Santo, em junção com a colaboração humana, exercendo fé no sacrifício de Cristo. Não discordo 100% dessa idéia, porém vejo que um exagero quanto ao “fator espiritual” tem sido imputado como realidade na mesma. Questões básicas de caráter como a honestidade, companheirismo, profissionalismo relacionamentos pessoais, negócios e outras questões da vida secular tem sido reputadas como ‘áreas’ da nossa vida, nas quais o Espírito Santo é quem nos convencerá de qualquer pecado que venhamos a cometer, mudando nossas atitudes e nos conduzindo assim a levarmos uma vida mais santa e justa.

Esse é um pensamento que me causa muito incomodo, pois me traz a mente a idéia de que na era pré-cristã, a qual o Espírito Santo não se fazia presente na vida de cada crente em Deus, era impossível que as pessoas praticassem o que é justo, e tivessem uma conduta exemplar. É como se o ser humano, devido ao chamado pecado original, fosse incapaz de viver ética e moralmente de forma correta, dentro do possível. ‘Não há um justo se quer’, se refere à posição pecadora do homem perante Deus, que não importa o quanto pratique o que é correto, ainda assim continua a pecar e estar impuro perante Deus. O fato de não se ter justos não tira do homem a responsabilidade de praticar a jusiça. Isso posso extrair de incentivos como os de Paulo:
"Sede meus imitadores, como também eu de Cristo." 1Co 11:1

O próprio Jesus faz um claro discurso sobre a necessidade de se buscar uma vida justa, e digna, praticando o que se tem como boas obras, que é encontrado no evangelho segundo Mateus dos capítulos de 5 a 7. Pobres de espírito, que choram, mansos, que têm fome e sede de justiça, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores, perseguidos por causa da justiça, esses são os que Jesus diz serem herdeiros do reino dos céus.E tudo isso, antes mesmo de prometer qualquer tipo de ajudador, como o Espírito. E mesmo quando promete o Espírito como ajudador, Jesus deixa claro que o mesmo os lembraria do que ele já lhes havia falado.

Dessa forma, entendo que a conduta correta do ser humano não é questão de uma influência mística, como se o próprio Deus é quem tenha o dever de operar uma mudança em nós, sendo antes esse um dever moral do homem. O homem que busca um relacionamento com Deus, é quem deve procurara reverter suas falhas. Se o cristão tem Jesus como seu alvo, deve procurar proceder da mesma forma justa que o mesmo procedeu, para se assemelhar a ele, realmente sendo seu imitador. Afinal, se o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, deve buscar, através de seu redentor, a praticar as obras que condizem com essa imagem. Mas ao invés disso o que temos é um cristianismo espiritual que além de esperar Jesus vir até ele, implorando para que o mesmo o aceite, também espera uma ação miraculosa do Espírito, de forma que deixa o homem sempre estático e a espera de um Deus que envia um Salvador, implora para que esse Salvador seja aceito por seus filhos e ainda precisa utilizar seu Espírito no aperfeiçoamento do homem, como se o homem não fosse um participante ativo dessa mudança. Só os tolos não querem servir a esse Deus. Afinal, ele faz tudo o que o homem deveria fazer!

O que devemos através de nosso relacionamento com Deus é obter ajuda do mesmo para praticar o que é correto, porém lembrando que Deus já nos deu uma enorme contribuição no sacrifício vicário realizado por seu filho. Portanto, cabe ao homem praticar a justiça e adorar a Deus, e isso através de seu filho Jesus. Afinal, se há um exemplo perfeito do que é uma vida justa, eis o homem de Nazaré.

Deixo então um pensamento que li, em um de meus devocionais:

“Não devemos impor domínio e controle sobre os outros, e sim sobre nós mesmos”.

Anderson L. Santos Costa

0 comentários

Postar um comentário